Translate

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Com passos de vida

Tenho saudades de nós
Dos sonhos partilhados,
Das mãos silenciosas,
Dos olhares cheios de promessas.
Do primeiro beijo.
Da vergonha de sentir desejo,
de ficarmos sós.
De acordarmos juntos,
na nossa manhã primeira...
Como a vida correu ligeira
Ai que saudades de nós!
Adormecemos com um filho no regaço,
Acordámos com netos enchendo o mesmo espaço,
E quando a vida nos tirar a voz,
Os amores que deixamos terão saudades de nós


in NOBRE POVO
De Lourdes dos Anjos
Escritora portuguesa

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Elos quebrados

Foi de um amor sublime
Ou de uma mera paixão,
Na explosão dos desejos
Ou de uma ordem do coração.

Foi da união de duas vidas
Formando um novo lar
Que somente a morte
Poderia separar.

Foi no encontro de dois corpos
Entre beijos e abraços,
Em um mundo de carinhos
Dei meus primeiros passos.

Foi em cada dia
De uma vida rotineira,
Que o sonho despertou
Diante das barreiras.

Foi assim que comecei
Minha difícil jornada
Caminhando com um casal
No fim de sua estrada.

Mas, não estou à procura
Do inocente ou do culpado
Só não quero viver assim
Sempre abandonado.

Vendo a corrente tão forte
Com seus elos quebrados.
Olhando papai e mamãe
Vivendo separados.

  
Do livro: Fantasia
De: Ildebrando Pereira da Silva


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Eu queria tão pouco


Eu queria me perder
Num lance de vida ou de morte.
Com soluços e com espanto,
Desvendar venturas em uma desventura,
Dissipar pressentimentos,
Curar cicatrizes no meu peito.

Eu queria adentrar num mundo novo:
Porta aberta, passos firmes,
Sem conflitos existenciais,
Sem receios aflorando,
Sem dualidade no ser,
sem sorrisos disfarçados.

Eu queria a quietude calma da estrela,
Numa viagem morna pela noite
Harmonia de  alma, corpo, mente.
Desvarios de um amor iluminado.

Eu queria uma emoção derradeira
De poesia, de doçura, de amor.
Meus sonhos perdidos renascendo devagar,
A magia do sentir vertendo novamente,
O sorriso cintilando no fundo do olhar.
Eu queria tão pouco. Eu queria ser feliz.

Da poetisa lorenense:
Inez Valle Neves

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Sou o acidente

Procuro insistentemente,
pelo incauto, pelo imprudente.
na rua, na construção,
na oficina e produção,
quero estar presente.

Só fico contente
se consigo de repente,
em algum lugar,
sorrateiro adentrar,
levando meu sinal.

E por onde me apresento,
deixo o desalento.
Nas almas combalidas
enormes feridas
e as marcas da dor.

Quebro o encanto,
semeio o pranto,
roubo a alegria
e faço do dia
uma noite sem luz.

Tenho muito poder,
mas, não posso vencer,
àquele que com perseverança
cultivar a segurança

por onde caminhar.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De:Ildebrando Pereira da Silva

Serra morta

A motosserra,
serra a mata da serra.
Serra e mata
a vida que a mata encerra.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De:Ildebrando Pereira da Silva


domingo, 15 de fevereiro de 2015

Medo de viver

O medo no meu passado,
era um medo tão presente,
morria de medo da morte,
e de  partir tão de repente.
Hoje, não penso mais nisso,
pois, o que abala o meu ser,
não é mais o medo da morte
e, sim o medo de viver.

Do livro: sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

No trem

O que tem no trem?
Tem muita gente,
Tem tanto surfista,
Tem tanto pingente.

Tem gente apertada,
Tem gente sem nome,
Tem gente apressada,
Tem gente com fome.

Tem gente falando,
Tem gente esprimida,
Tem gente pensando,
Tem gente sem vida.

Tem gente honesta,
Tem gente decente,
Tem gente pacata,
Tem gente valente.

Tem gente do Leste,
Tem gente chegando,
Tem gente do Norte,
Tem gente voltando.

Tem gente sentada,
Tem gente em pé,
Tem gente cansada,
Tem gente sem fé.

Tem gente que anseia,
Tem gente que reclama,
Tem gente que odeia,
Tem gente que ama.

Do livro: sonho de papel

De: Ildebrando Pereira da Silva.

Meu hábito

“De médico e louco,
todo mundo tem um pouco”
Às vezes sou mais médico,
quase sempre sou mais louco.
Tudo depende do momento,
e, se “a ocasião faz o ladrão”,
às vezes sou honesto,
na maioria das vezes não.
“O hábito não faz o monge”,
se faz não sei muito bem.
só sei que o melhor hábito
É aquele que me convém.

Do livro: sob olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Paradoxo

És o vazio que preenche,
O nada que tudo entrega,
O frio que aquece,
As trevas que iluminam.
És o espinho que enfeita,
A dor que traz alegria,
O veneno que sustenta.
És o mal que faz tanto bem,
A guerra que enche de paz,
A morte que aviva,
A incerteza que dá segurança.
És a tormenta que acalma,
A fraqueza que anima,
o abismo que une.
És o inferno que preciso,
Para ser meu paraíso.


Invasão

Queria ser um rio,                                           
 ultrapassar meus limites,                                          
sair das minhas margens,                                
invadindo teus domínios.                                               
 Ir lentamente subindo,                                     
 ocupando teus espaços,                                      
percorrer teus vales e campos                                          
e os mais altos montes deixar submersos.                      
 E nesta invasão te entregar tudo que tenho,          
deixando em teu solo as marcas de quem sou.            
 Em minhas águas banhar-te de carinhos,           
 inundar-te de amor.  

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva.   

Lua menina

Menina, lua crescente,
Em seu quarto de espera,
Silenciosa aguarda
Mais uma primavera.

Menina, lua nova
Em seu quarto de ilusão,
Guarda muitos segredos,
E os sonhos de uma paixão.

Menina, lua cheia,
Em seu quarto de mistérios,
Bate às portas do deseja,
Levando os sonhos a sério.

E o astrônomo amador,
Com a luneta do coração,
Observa  a lua menina
Em sua evolução.

Mas, a menina lua minguante,
Em um quarto todo seu,
Sob negras e densas  cortinas
Do apaixonado se escondeu.

Do livro: Sonho de papel
De: Ildebrando Pereira da Silva

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Matematicamando

Foi na fatoração da minha vida
Que encontrei o divisor comum
Dos meus sentimentos
No conjunto unitário do teu amor.
Da união dos nossos sonhos,
Resultou na igualdade de fatores
Para uma infinita felicidade.
A cada fração de segundo
Somamos nossos pensamentos
E cada vez mais nosso
Amor multiplicava-se mostrando
O valor absoluto de um bom relacionamento..
Eu sentia a todo momento
Meu mundo contido no teu.
Reduzindo nossa saudade
Ao mesmo denominador,
Tivemos a prova real
De que o tempo é relativo
Quando se ama de verdade.
Tínhamos a sinceridade por base
E a verdade por expoente.
O resultado sempre foi o máximo prazer.
Mas, envolvido pelo círculo das ilusões
Não percebi que matematicamente te perdia
E que aquele amor elevado à décima potência
Não passava de um elemento neutro.
E agora, o que fazer?
Se não sou mais a razão da sua vida
Não tenho o mínimo interesse em viver.
Sinto-me como um conjunto vazio,
Pois, sei que fui subtraído do seu coração
Que na troca de sinais eliminou
A chave da nossa felicidade.
Hoje, é difícil aceitar que tudo será diferente,
Depois deste resultado negativo
Em mais uma operação do amor.

Do livro: Fantasia

De: Ildebrando Pereira da Silva

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Sem nada

Sem amigo,
Sem saída,
Sem abrigo,
Sem lida.

Sem estrela,
Sem luar,
Sem janela,
Sem par.

Sem festa,
Sem balada,
Sem orquestra,
Sem alvorada.

Sem tostão,
Sem algibeira,
Sem ação,
Sem carreira.

Sem caminho,
Sem chegada,
Sem carinho,
Sem nada.

Sem felicidade,
Sem emoção,
Sem vontade,
Sem razão.

Sem calor,
Sem ninguém,
Sem amor,
Sem amém.

Do livro: Fantasia
De: Ildebrando Pereira da Silva


É inútil tentar

É inútil disfarçar o que vai no coração,
Forçar um sorriso, causar boa impressão.
Dizer que tudo está bem e não há tempestade,
Que a tristeza passou e também a saudade.

Tentar esconder o que a vida revela,
Se a alma abriga uma dor que é só dela.
É inútil disfarçar a nostalgia presente
E o desejo que chega sempre insistente.

Querer esconder o vazio que aumenta
Com grande poder nas horas tão lentas.
É inútil tentar qualquer artifício,
Para fugir da solidão não há nada propício.
É impossível esconder a grande verdade:
A chama do amor neste peito que arde.


Do livro: Fantasia
De: Ildebrando Pereira da Silva


domingo, 8 de fevereiro de 2015

Cantiga tirana


Minha Maria é bonita,
Tão bonita assim não há;
O beija-flor quando passa
Julga ver o manacá.
Minha Maria é morena,
Corno as tardes de verão;
Tem as tranças da palmeira
Quando sopra a viração.
Companheiros! o meu peito
Era um ninho sem senhor;
Hoje tem um passarinho
Pra cantar o seu amor.
Trovadores da floresta!
Não digam a ninguém, não!...
Que Maria é a baunilha
Que me prende o coração.
Quando eu morrer só me enterrem
Junto às palmeiras do val,
Para eu pensar que é Maria

Que geme no taquaral..

Poema de Castro Alves
Patrono da Cadeira Nº 03 da ALLARTE

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Oração da fome


A poesia do casamento

Sidney Moraes

"Existem certas pessoas carentes de entendimento”
Que acham que não foi Deus que criou o casamento
A principio lhes parece que não foi conveniente
Unir dois seres avessos, de fato bem diferentes.

Mas nós que somos cristãos e temos boa memória
Conhecemos muito bem como surgiu essa história
Adão andava ocupado trabalhando com capricho
Se esforçando o dia inteiro pensando em nome de bicho

Era tigre, porco, tatu, macaco, alce, leão.
Adão andava inspirado e foi mesmo abençoado
Com tanta imaginação
E é possível que o sujeito também tenha reparado
Que todo animal macho tinha uma fêmea do lado

E o Senhor demais atento sondando o coração
Sentiu que era preciso, dar um fim a solidão e disse:
'Adão, filho querido, EU não quero te ver tão só.
Far-lhe-ei uma companheira,
Uma joia de primeira, da costela e não do pó. '

E pondo Deus em ação aquilo que pretendia
Nocauteou o nosso Adão dando inicio a cirurgia
E Deus cerrou a costela pondo carne no lugar
E assim fez a princesa esperando ele acordar.
Quando o varão despertou daquele sono pesado
O corte da cirurgia já tinha cicatrizado
Então, Deus trouxe a varoa e entregando a Adão.
Ouviu um brado de glória e a seguinte exclamação:

'Ela é a carne da minha carne, ela é osso do meu osso'
E Adão foi pra galera e fez aquele alvoroço
A partir daquele dia o homem bem mais ocupado
Deixou pra trás muito bicho sem nome catalogado

E até hoje rola um papo machista e bem corriqueiro
Que o homem é mais importante porque foi feito primeiro
Algumas mulheres se irritam e afirmam de arma em punho
Que a vida da obra prima vem sempre após o rascunho

Mas há também homens que falem e há quem acredite
Que Deus fez Adão primeiro para Eva não dar palpite
Mas isso é irrelevante para o sucesso da vida a dois
Para ser feliz não importa quem veio antes ou depois

Porque Deus fez tudo perfeito e discorde quem quiser

Mas o melhor da mulher é o homem e o melhor do homem a mulher

Estiagem


Joelhos dobrados, unidos ao chão,
Mãos calejadas postas em oração.

A alma amargurada aguarda ansiosamente
Que o milagre aconteça para brotar a semente.

Mas, a terra ressequida que água carece,
Espera pela chuva implorada na prece.

Passa o tempo, passa o vento,
E nos lábios um lamento.

A suprema agonia sufoca o gemido,
No peito exausto de um corpo abatido.

Um olhar aflito, tentando encontrar
Um resto de esperança perdido no ar.

Um cenário de dor na paisagem deserta.
A bica secando e o calor que aperta.

A tulha vazia. O animal magricela,
A criança que espia o fundo da panela.

E no terreno aquecido adormece a canção,
A viola é esquecida na falta de inspiração.

Morrem as plantas, os sonhos e a poesia.
E no coração do caboclo, só tristeza, noite e dia.

Do livro: Fantasia
De: Ildebrando Pereira da Silva

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Ouça a música "E agora Drummond?"

OUÇA A MÚSICA E AGORA DRUMMOND?

E agora Drummond?

E agora Drummond?
Que será de José?
Que ficou sem tostão
Que perdeu sua fé,
Que não tem mais prazer...
Que deixou de brigar,
Que rendeu-se ao poder...
Que não quer protestar,
Sua raiva murchou
Não tem gana mais não...
A esperança acabou...

E agora Drummond?

Está sem trabalho
Está sem dinheiro
Está sem amigo e sem paradeiro
Só vê desespero, miséria, abandono
Os mesmos senhores na terra sem-dono
Não vê a mudança, sonhar foi em vão
José já se cansa...

E agora Drummond?

Se você voltasse,
Se você escrevesse,
Se você contasse que sofrer é esse
Se você existisse e se denunciasse
Se José pudesse ver a sua face
Mas você foi embora,
Que tristeza então...
Pra José que chora...

E agora, Drummond?

Sozinho ele roda
Na roda do mundo
Atrás da utopia jogada no fundo
Não viu alegria, a justiça não veio
E o destino do povo parado no meio
José chama o povo, ninguém lhe responde,
Mas ele 'inda marcha...

Drummond, para onde?
(E agora Drummond?)

Letra da música
E agora Drummond

João Nogueira e Paulo César Pinheiro

Decidir


Fantasia


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Os patos de Rui Barbosa


Certeza


Coração descuidado

O coração sem cuidado,
Pelas ruas da vida,
Ficou estacionado
Na parada proibida.

Andou na contramão,
Avançou o sinal,
Sem obedecer a
Ordem do policial.

Fez tudo errado:
Dirigiu embriagado,
Perdeu a direção,

Atravessou canteiro,
Bateu na casa do amor
E ali ficou prisioneiro.

Do livro Sonho de Papel
De: Ildebrando Pereira da Silva


Medos

O medo na vida, sempre presente,
No homem adulto, na criança inocente.

Ainda pequeno engatinhando-se pelo chão,
Já conhece o medo do bicho-papão.

Na idade escolar a cena dramática,
O medo terrível da matemática.

O tempo passa e o medo aberto
É um bicho-de-sete-cabeças  sempre por perto.

Medo de barulho, do imprevisível ladrão,
Medo de escuro, medo de assombração.

O medo acompanha o homem na terra,
Medo de assalto, medo de guerra.

E no mundo atual, não é ficção,
Há sempre um medo em cada coração.

Medo de tudo,
Medo da sorte,
Medo da vida,
Medo da morte.

Do livro Sonho de Papel
De: Ildebrando Pereira da Silva

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A vida


Beijando

Beijo no rosto,
Beijo na mão,
Beijo na testa,
Beijo no chão.

Beijo de Judas,
Beijo da morte,
Beijo do amigo,
Beijo da sorte.

Beijo inocente,
Beijo com respeito,
Beijo indiferente,
Beijo sem jeito.

Beijo ardente,
Beijo gelado,
Beijo inerte,
Beijo roubado.

Beijo que provoca,
Beijo que induz,
Beijo que sufoca,
Beijo que seduz.

Beijo ligeiro,
Beijo demorado,
Beijo fagueiro,
Beijo  esperado.

Beijo fingido,
Beijo leal,
Beijo exigido.
Beijo profissional.

Beijo da vida,
Beijo dos céus,
Beijo de chegada,
Beijo de adeus.

Do livro Sonho de Papel
De: Ildebrando Pereira da Silva