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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Ainda que...

AINDA QUE

Ainda que os espinhos superem as flores
Não deixe que as lágrimas apaguem teu sorriso.
Ainda que as trevas encubram a luz,
Não deixe encoberto o brilho dos teus olhos.
Ainda que a realidade desperte os sonhos,
Não deixe de sonhar com a realidade que tu queres.
Ainda que a vida supere tua força,
Não deixe de buscar a “Força” que te faz forte.

Ainda que a noite seja escura e fria,
E pela manhã o sol não apareça.
Ainda que teus versos percam a rima,
e na tua boca o canto emudeça
Ainda que as árvores não deem seus frutos
E os campos não floresçam.
Ainda que no tempestuoso mar
Teu barco esteja prestes a perecer:

Não deixe de sorrir,
Não deixe de cantar,
Não deixe de viver,
Não deixe de amar.
Pois, ainda há alguém que precisa:
Do teu sorriso para cantar,
Do teu canto para sorrir,
Da tua vida para amar,
Do teu amor para viver.

Do livro: Fantasia
De: Ildebrando Pereira da Silva


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Pense nisso

A gente passa mais tempo 
morto, do que vivo...
Há quanto tempo existe esta humanidade?
E quanto tempo vivemos em idade?
E quando a gente vem ao mundo... 
O que fazemos?

Passamos mais tempo preso
 do que livre;
 mais tempo pobre
 do que rico;
 mais tempo burro
 do que sábio;
 mais tempo preocupado
 do que resolvido;

Mais tempo atrapalhando,
 do que ajudando;

Mais morto,
 do que vivo..."

Façamos a vida valer a pena!!
 Dê valor a tudo que tens, 
começando pelos rins e risos. 


Madalena Daltro
Escritora, Membro da Academia Lorenense de Letras e Artes

sábado, 22 de agosto de 2015

O testamento do mendigo

 (URBANO REIS)

    Agora, no fim da vida

  Como mendigo que sou,

  Me sinto preocupado,

  Intrigado e num momento

  Me pergunto, embaraçado,

  Se faço ou não testamento.

 

  Não tendo, como não tenho

  E nunca tive ninguém,

  Pra quem é que eu vou deixar

  Tudo o que eu tenho: os meus bens?

 

  Pra quem é que vou deixar,

  Se fizer um testamento,

  Minhas calças remendadas,

  O meu céu, minhas estrelas,

  Que não me canso de vê-las

  Quando ao relento deitado

  Deixo o olhar perdido,

  Distante, no firmamento?

 

  Se eu fizer um testamento

  Pra quem é que vou deixar

  Minha camisa rasgada,

  As águas dos rios, dos lagos,

  Águas correntes, paradas,

  Onde às vezes tomo banho?

 

  Pra quem é que vou deixar,

  Se fizer um testamento,

  Vaga-lumes que em rebanhos

  Cercam meu corpo de noite,

  Quando o verão é chegado?

 

  Se eu fizer um testamento

  Pra quem vou deixar,

  Mendigo assim como sou,

  Todo o ouro que me dá

  O sol que vejo nascer

  Quando acordo na alvorada?

  O sol que seca meu corpo

  Que o orvalho da madrugada

  Com sua carícia molhou?

 

  Pra quem é que vou deixar,

  Se fizer um testamento,

  Os meus bandos de pardais,

  Que ao entardecer, nas árvores,

  Brincando de esconde-esconde,

  Procuram se divertir?

  Pra quem é que eu vou deixar

  Estas folhas de jornais

  Que uso para me cobrir?

 

  Se eu fizer um testamento

  Pra quem é que eu vou deixar

  Meu chapéu todo amassado

  Onde escuto o tilintar

  Das moedas que me dão,

  Os que têm a alma boa,

  Os que têm bom coração?

 

  E antes que a vida me largue,

  Pra quem é que eu vou deixar

  O grande estoque que tenho

  Das palavras "Deus lhe pague"?

 

  Pra quem é que eu vou deixar,

  Se fizer um testamento,

  Todas as folhas de outono

  Que trazidas pelo vento

  Vêm meus pés atapetar?

 

  Se eu fizer um testamento

  Pra quem é que vou deixar

  Minhas sandálias furadas,

  Que pisaram mil caminhos,

  Cheias dos pós das estradas,

  Estradas por onde andei

  Em andanças vagabundas?

  Pra quem é que eu vou deixar

  Minhas saudades profundas

  Dos sonhos que não sonhei?

 

  Pra quem eu vou deixar,

  Se fizer um testamento,

  Os bancos dos meus jardins,

  Onde durmo e onde acordo

  Entre rosas e jasmins?

  Pra quem é que vou deixar,

  Todos os raios de luar

  Que beijam minhas mãos

  Quando num canto de rua

  Eu as ergo em oração?

 

  Se eu fizer um testamento

  Pra quem é que vou deixar

  Meu cajado, meu farnel,

  e a marca deste beijo

  Que uma criança deixou

  Em meu rosto perguntando

  se eu era Papai Noel?

 

  Pra quem é que eu vou deixar,

  Se fizer um testamento,

  Este pedaço de trapo

  Que no lixo eu encontrei

  E que transformei em lenço

  Para enxugar minhas lágrimas

  quando fingi que chorei?

 

  Se eu fizer um testamento

  Testamento não farei

  Sem nenhum papel passado,

  Que papéis eu não ligo,

  Agora estou resolvido:

  O que tenho deixarei,

  Na situação em que estou,

  Pra qualquer outro mendigo,

  Rogando a Deus que o faça,

  Depois que eu tiver morrido,

  Ser tão feliz quanto eu sou.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Meu olhar

Meu olhar
Escreve
Pensa...
Observa e lamenta.

Chora
Brilha sorriso
Olha o horizonte
Procure atrás dos montes o paraíso.
Meu olhar
Fotografa
Finge que não vê
Esquece o que vale a pena esquecer.
Meu olhar

Sorrisos e lágrimas
Poesias da alma
Que molham o rosto emocionado de quem se encontra com as palavras.
Poeta " L.F.Santos "

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Adormecida

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
Pra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! - tu és a flor de minha vida!..."

Castro Alves

Meu mundo mágico

Meu mundo é mágico,
Não  há nenhum problema trágico,
Só felicidade e alegria.
Isso que me contagia:
Amor e esperança
Com muita abundancia,
Incluindo  comidas e sobremesas
Que ficam sobre a mesa.
Aqui não há intrigas,
Nem discórdias, nem brigas.
Não preciso de dinheiro
Pois ele é passageiro.
Aqui tudo é de graça
Vamos fazer tim-tim com a taça.
Aqui tudo é Paz e  Amor
Sem brigas, sem dor
Que pena que é imaginação
Queria que meu mundo fosse assim...
De  coração.

Nicoly Appugliese
Aluna do 7º Ano
Da Escola Estadual Arnolfo Azevedo
na cidade de Lorena

 

sábado, 8 de agosto de 2015

Poema da Despedida

[Mia Couto]

Não saberei nunca
 dizer adeus
Afinal,
 só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
 só nós não podemos ser
Talvez o amor,
 neste tempo,
 seja ainda cedo

Não é este sossego
 que eu queria,
 este exílio de tudo,
 esta solidão de todos

Agora
 não resta de mim
 o que seja meu
 e quando tento
 o magro invento de um sonho
 todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
 alcança o mundo, eu sei
 Ainda assim,
 escrevo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Literaturatura de Cordel

Esse tal de "Zap Zap"
 É negócio interessante
 Eu que antes criticava
 Hoje teclo a todo instante.
 Quase nem durmo ou almoço
 E quem criou esse troço
 Tem uma mente brilhante.

Quem diria que um dia
 Eu pudesse utilizar
 Calculadora e relógio
 Câmera de fotografar.
 Tudo no mesmo aparelho
 Mapa, calendário, espelho
 E telefone celular.

E agora a moda pegou
 Pelas "Redes Sociais"
 É no "Face"ou pelo "Zap"
 Que o povo conversa mais.
 Talvez não saiba o motivo
 Que esse tal de aplicativo
 É mais lido que os jornais.

Eu acho muito engraçado
 Porque muita gente tem
 Um Grupo só pra Família
 Um do Trabalho também.
 E até aquele contato
 Que só muda de retrato
 Mas não fala com ninguém!

Tem o Grupo da Escola
 O Grupo da Academia
 Grupo da Universidade
 O Grupo da Poesia.
 Tem o Grupo das Baladas,
 Das Amigas Mais Chegadas
 E o da Diretoria.

Tem quem mande Oração,
 "Bom dia!", de vez em quando
 Que só mande figurinhas
 Quem só fica reclamando.
 No Grupos é que é parada
 Dia, noite, madrugada
 Sempre tem alguém teclando.

Cada um que analise
 Se é bom ou se é ruim
 Ou se a Tecnologia
 É o começo do fim.
 Talvez um voto vencido
 Porém o Zap tem sido
 Até útil para mim.

Eu acho que a Internet
 É uma coisa muito boa
 Tem coisas muito importantes
 Porém muita coisa à toa.
 Usar de forma acertada
 Ou, por ela, ser usada
 Vai depender da pessoa.

Comunicação é bom
 Vantagens que hoje se tem
 Feliz é quem tem amigos
 Fora das Redes também.
 A vida só tem sentido
 Quando o que é permitido
 É aquilo que convém.

Pra quem meu verso rimado
 Acabou de receber
 Compartilhe esta mensagem
 Que finaliza a dizer:
 "Viva a vida intensamente
 Porque é pessoalmente
 Que se faz acontecer!"

Autor desconhecido

domingo, 2 de agosto de 2015

Saudade e poesia

Poesia que a alma escreve
na noite calada,               
com a pena da saudade
à espera da madrugada.
 
Poesia que a alma recebe
 na madrugada vazia,       
com saudade pena
 à espera do dia.                      

 Poesia que a alma acolhe
no dia que lhe invade            
a dor e a saudade
à  espera da tarde.                   
 
 Poesia que a alma transpira,
na tarde é um açoite,      
a dor da saudade,
 à espera da noite.                                 
 
E a alma na espera,                                                    
 supera a agonia,                                                     
 morrendo de saudade,                                             
 vivendo de poesia.

Do livro: sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

sábado, 1 de agosto de 2015

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
 moça branca como a neve,
 me leve.

 Se acaso você não possa
 me carregar pela mão,
 menina branca de neve,
 me leve no coração.

 Se no coração não possa
 por acaso me levar,
 moça de sonho e de neve,
 me leve no seu lembrar.

 E se aí também não possa
 por tanta coisa que leve
 já viva em seu pensamento,
 menina branca de neve,
 me leve no esquecimento.

 Ferreira Gullar

TRADUZIR-SE

 Uma parte de mim
 é todo mundo;
 outra parte é ninguém:
 fundo sem fundo.
 Uma parte de mim
 é multidão:
 outra parte estranheza
 e solidão.
 Uma parte de mim
 pesa, pondera;
 outra parte
 delira.
 Uma parte de mim
 almoça e janta;
 outra parte
 se espanta.
 Uma parte de mim
 é permanente;
 outra parte
 se sabe de repente.
 Uma parte de mim
 é só vertigem;
 outra parte,
 linguagem.
 Traduzir-se uma parte
 na outra parte
— que é uma questão
 de vida ou morte —
será arte?

 Ferreira Gullar