Translate

terça-feira, 30 de junho de 2015

Reflexão - O carpinteiro


Soneto da Perdida Esperança

Perdi o bonde e a esperança
 Volto pálido para casa.
 A rua é inútil e nenhum auto
 passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
 em que os caminhos se fundem.
 Todos eles conduzem ao
 princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
 ou se é alguém que se diverte
 Por que não? Na noite escassa

Com um insolúvel flautim.
 Entretanto há muito tempo
 nós gritamos: Sim! Ao eterno."

 - Carlos Drummond de Andrade

O Grilo Seresteiro

Wagner Fernandes Fonseca
Membro Correspondente da
Academia Lorenense de Letras e Artes
ALLARTE
O Grilo Seresteiro faz parte do Musical
Floresta de Poesia retirado do
livro de mesmo nome.

Poema 42

Este animal:
Que fala, pensa e respira.
Dotado de profundos olhos...

Que a alma transpira,
Padece desta sorte, á mercê.
Esta eterna carência
Que mal posso conter,
A mais clara evidencia
Da maldita dependência
De viver por você


Hipólito Costa

Por um lindésimo de segundo

"por um lindésimo de segundo
tudo em mim
anda a mil
tudo assim...

tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu

tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas"


Paulo Leminski

A vida muda...

"A vida muda como a cor dos frutos
lentamente
e para sempre
A vida muda como a flor em fruto
velozmente..."


segunda-feira, 29 de junho de 2015

A Mocidade

A mocidade é como a primavera!
A alma, cheia de flores resplandece,
Crê no bem, ama a vida, sonha e espera,...

E a desventura facilmente esquece.

É a idade da força e da beleza:
Olha o futuro, e inda não tem passado:
E, encarando de frente a natureza,
Não tem receio do trabalho ousado.

Ama a vigília, aborrecendo o sono;
Tem projetos de glória, ama a quimera;
E ainda não dá frutos como o outono,
Pois só dá flores como a primavera!

  Olavo Bilac

E se eu disser

E se eu disser que te amo - assim, de cara,
sem mais delonga ou tímidos rodeios,
sem nem saber se a confissão te enfara...

ou se te apraz o emprego de tais meios?

E se eu disser que sonho com teus seios,
teu ventre, tuas coxas, tua clara
maneira de sorrir, os lábios cheios
da luz que escorre de uma estrela rara?

E se eu disser que à noite não consigo
sequer adormecer porque me agarro
à imagem que de ti em vão persigo?

Pois eis que o digo, amor. E logo esbarro
em tua ausência - essa lâmina exata
que me penetra e fere e sangra e mata.

- Ivan Junqueira

Queria um canto

Queria um canto
Um rancho
Uma música...

No vagão do trem

Queria o silêncio humano
Ouvir o canto da lira
Ler um conto caipira
No canto que não tenho

Queria a coragem
Saúde e prosperidade
A força e a leviandade
Para seguir além

Mas coragem não tenho
Só atrevimento de sonhar
Com o dia que serei apenas eu...
E o canto do pássaro
Que fará ninho na minha sepultura.

- Madalena Daltro

O pássaro...

"Descosendo o Espaço
O pássaro agonizante
põe pela boca os milhares

de quilômetros
que devorou pelos ares."...

 
- Aníbal Machado (1894-1964)

Versos

Às vezes a água fria da pia
em que lavo os copos
e pratos...

congela os versos.

Outras vezes
a mesma água
com que rego as plantas
refresca o vaso
de onde nasce a paz.


Madalena Daltro

Paradoxo

És o vazio que preenche,
O nada que tudo entrega,
O frio que aquece,
As trevas que iluminam.
És o espinho que enfeita,
A dor que traz alegria,
O veneno que sustenta.
És o mal que faz tanto bem,
A guerra que enche de paz,
A morte que aviva,
A incerteza que dá segurança.
És a tormenta que acalma,
A fraqueza que anima,
o abismo que une.
És o inferno que preciso,
Para ser meu paraíso.

Ildebrando Pereira da Silva

A Arte para todos

 
A eterna magia do circo

sexta-feira, 26 de junho de 2015

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Velhas árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!


Olavo Bilac, in "Poesias"

Sem nada...

Sem amigo,
Sem saída,
Sem abrigo,
Sem lida.

Sem estrela,
Sem luar,
Sem janela,
Sem par.

Sem festa,
Sem balada,
Sem orquestra,
Sem alvorada.

Sem tostão,
Sem algibeira,
Sem ação,
Sem carreira.

Sem caminho,
Sem chegada,
Sem carinho,
Sem nada.

Sem felicidade,
Sem emoção,
Sem vontade,
Sem razão.

Sem calor,
Sem ninguém,
Sem amor,
Sem amém.

Do livro: Fantasia
De: Ildebrando Pereira da Silva


quarta-feira, 24 de junho de 2015

Eu e o tempo

Eu fiz um acordo com o tempo...
Nem ele me persegue, nem eu fujo dele...
Qualquer  dia a gente se encontra e,
Dessa forma, vou vivendo
Intensamente cada momento...
 
Mário Lago

Depoimento


Depoimento do Acadêmico da ALLARTE
Wagner Fernandes Fonseca
Sobre meu livro “Sob o olhar da poesia”

 Tive o prazer de ler seu livro na íntegra. Como diz na apresentação, cada poema com gosto de ler os demais. Em Sob o olhar da poesia gostei temos um poeta que, em diversos momentos, reflete sobre o fazer poético, trabalha a metalinguagem e dialoga com o texto, no ato de criar. "minha infância"... Que belo samba-canção estes versos podem compor... Saudosismo... "Necropsia"... a palo seco, como escreveria João Cabral de Mello Neto, vi muita relação com a poética deste modernista... Parece que de uma mesma fonte de poesia nascem os versos dos dois poetas... Seus textos trabalham também as antíteses, as contradições e paradoxos da humanidade, em questionamentos sociais, filosóficos e, de certa forma, com um senso crítico que nos faz recordar Gregório de Matos... Sem contar o romantismo e a sensibilidade que transitam entre as estrofes. Um poeta das rimas ricas e cadência, que levam naturalmente à musicalidade. "E Deus fez o homem..." este gostaria de por melodia... é um dos que mais gostei!!!! Parabéns pela grande obra que o senhor produziu... ou, como diria Vinícius de Moraes, a obra faz o autor...
 
Todas as poesias deste livro estão publicadas aqui, mas, você pode adquirir tanto a versão impressa quanto a digital clicando no botão "Conheça meu trabalho".

O que é simpatia?

Uma belíssima poesia de Casimiro de Abreu
Patrono da Cadeira Nº 01 da ALLARTE


Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.


Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.


São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.


Simpatia - meu anjinho,
É o canto do passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'Agôsto,
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é - quase amor!

terça-feira, 23 de junho de 2015

Vê mais longe...


Morena Lorena

Conheça um pouco da cidade de Lorena, no nterior
do Estado de São Paulo  Brasil, onde nasci e vivo,
Acompanhado de uma bela música em sua homenagem.

A fábula do macaco e do peixe

Um macaco passeava-se à beira de um rio, quando viu um peixe dentro de água. Como não conhecia aquele animal, pensou que estava a afogar-se. Conseguiu apanhá-lo e ficou muito contente quando o viu aos pulos, preso nos seus dedos,

achando que aqueles saltos eram sinais de uma grande alegria por ter sido salvo. Pouco depois, quando o peixe parou de se mexer e o macaco percebeu que estava morto, comentou - que pena eu não ter chegado mais cedo!"

 

“A fábula do macaco e do peixe” (Mia Couto)

NAS ÁGUAS DO TEMPO - Mia Couto

 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

I M P O S S Í V E L

Como atingir:
A velocidade da luz,            
a imortalidade,                       
o infinito e a eternidade?


Impossível?                  

 Talvez não!

 Como sondar:
a retina,
o cérebro,
o pensamento e o futuro?

Impossível?                   

Talvez não!

 
O que fazer:
Para chegar aos teus braços,
conhecer o teu sabor,
invadir tua fortaleza                   
 e conquistar o teu amor?

 Impossível?

Completamente.

Até que proves     
O contrário!

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

Ser humano.

Sou humano,          
 embora não pareça.             
Quando irritado,       
perco a cabeça.

Quebro as regras       
de educação,          
troco as boas maneiras
por um palavrão.

Sou muito bom,     
mas, não mexa comigo,
pois, no fundo             
 sou um perigo.

Do céu ao inferno         
vou em um segundo.
 Simples palavras
destroem meu mundo.

Sou humano,     
embora não pareça.
Sou um bicho          
que às vezes pensa!

Ildebrando Pereira da Silva

Poema ou poesia?

No sentido etimológico, poesia vem do grego poiesis, que pode ser traduzido como a atividade de produção artística ou a de criar ou fazer. Com base nisso, a poesia pode não estar só no poema, mas também em paisagens e objetos. Trata-se, enfim, de uma definição mais ampla, que abarca outras formas de expressão, além da escrita.
 Já o poema também é uma obra de poesia, mas que usa palavras como matéria-prima. Na prática, porém, convencionou-se dizer que tanto o poema quanto a poesia são textos feitos em versos, que são as linhas que constituem uma obra desse gênero.
 
Por fim, o soneto é um poema de forma fixa. Tem quatro estrofes, sendo que as duas primeiras se constituem de quatro versos, cada uma, os quartetos, e as duas últimas de três versos, cada uma, os tercetos. Todos eles têm dez sílabas poéticas, classificando-se como decassílabos. Os sonetos costumam ter uma estrutura semelhante. O texto começa com uma introdução, que apresenta o tema, seguida de um desenvolvimento das ideias e termina com uma conclusão, que aparece no último terceto. Essa é, em geral, a estrofe decodificadora de seu significado.

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor… Não cante
 O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
 Numa sempre diversa realidade
 
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
 E te amo além, presente na saudade.
 Amo-te, enfim, com grande liberdade
 Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
 De um amor sem mistério e sem virtude
 Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
 É que um dia em teu corpo de repente
 Hei de morrer de amar mais do que pude.

 
Vinicius de Moraes

Canção do dia de sempre

 Tão bom viver dia a dia...
 A vida assim, jamais cansa...

 Viver tão só de momentos
 Como estas nuvens no céu...

 E só ganhar, toda a vida,
 Inexperiência... Esperança...

 E a rosa louca dos ventos
 Presa à copa do chapéu.

 Nunca dês um nome a um rio:
 Sempre é outro rio a passar.

 Nada jamais continua,
 Tudo vai recomeçar!

  E sem nenhuma lembrança
 Das outras vezes perdidas,
 Atiro a rosa do sonho
 Nas tuas mãos distraídas...

Mario Quintana

Poesia

Quando o nevoeiro desce dos olhos,
Sinto a ausência do teu amor.
Quando sento na varanda da solidão,
Sinto o meu corpo frágil e febril.
Quando me entrego para ti,
Sinto a falta do teu amor por mim.
Sei que o amor é doença sem cura
Mas me causa loucura a tua procura
Todas as noites de luares sombrios.

Sanjo Muchanga

Inteiro

Inteiro

 "Não quero um fragmento
 ou uma citação que cause impacto
 quero um poema inteiro
 mesmo que seja ácido

  Não quero uma esmola
 quero o nada que dá impulso
o nada que move a força
 a força que move tudo

 Não quero uma cópia
 quero o original
 quero uma trova,
 mas que não haja igual

Não quero ser mesquinha
 conformada com quase tudo
 Sacuda meu corpo com a simplicidade,
 mas que seja inteiro.

Então dá-me uma música!
 Quero a intensidade
 O suspiro profundo
 Sair desse mundo

Quero uma palavra
 não abreviada
 que seja inteira
 distinta ou camuflada
 Que me faça rir
 que me surpreenda
 que me faça refletir
 que me compreenda
 que me faça amante
 que me encante
 que seja inteira."
 
- Madalena Daltro

domingo, 21 de junho de 2015

Finá de ato


(*Texto original de autor desconhecido. Adaptações da Silva Jimenez Vargas)

 Adispôs de tanto amor
 De tanto cheiro cheiroso
 De tanto beijo gostoso, nós briguemos
 Foi uma briga fatá; eu disse: cabou-se !
 Ele, disse; cabou-se!
 E nós dois fiquemos mudo, sem vontade de falá.
 Xinguemos, sim, nós se xinguemos.

Como se pode axingá:

- Ô, mandinga de sapo seco!
 - Ô baba de cururu!
 - Tu fica no Norte
 Que eu vô pru sul
 Não quero te ver nem pintado de carvão
 Lá no fundo do quintá
 E se eu contigo sonhar
 Acordo e rezo o Creio em Deus Pai
 Pru modi não me assombrá.
 É... o Brasil é muito grande
 Bem pode nos separar!

Eu engoli um salucio
 Ele, engoliu bem uns quatro.
 Larguemo o pé pelo mato
 Passou-se tantos tempo
 Que nem é bom rescordar...


Onti, nós si encotremus
 Nenhum tentou disfaçá
 Eu parti pra riba dele
 Cum um fogo aceso nu oiá
 Que se num fosse um cabra de osso
 Tava aqui dois pedaço.

Foi tanto cheiro cheiroso...
 Foi tanto beijo gostoso...
 Antonce nós si alembremos
 O Brasil... é tão pequeno
 Nem pode nos separá!

Motivo

Motivo
Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.

Poeminha amoroso

Este é um poema de amor
 tão meigo, tão terno, tão teu...
 É uma oferenda aos teus momentos
 de luta e de brisa e de céu...
 E eu,
 quero te servir a poesia
 numa concha azul do mar
 ou numa cesta de flores do campo.
 Talvez tu possas entender o meu amor.
 Mas se isso não acontecer,
 não importa.
 Já está declarado e estampado
 nas linhas e entrelinhas
 deste pequeno poema,
 o verso;
 o tão famoso e inesperado verso que
 te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
 eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Cora Coralina

Promessas

No palanque eleitoral,
o candidato eloquente,
promete mudar nossas vidas
e, ter um mandato decente.

 Vou construir escolas, creches,
todas as ruas irei pavimentar,
vou trazer água, esgoto
e, uma ponte para este lugar.

Do meio da multidão
vem logo um desafio:
- Como construir uma ponte,
se na cidade não temos rio?
 
O candidato logo responde:
Eu digo com sinceridade,
se for eleito eu  prometo,
que trago um rio para a cidade.

 
Do livro sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

sábado, 20 de junho de 2015

Observação


Quanto mais observo as pessoas
 Mais as considero medíocres
 E ao mesmo tempo espetaculares.

Pois são terrivelmente cruéis
 E igualmente inocentes.
 Absurdamente egoístas, ambiciosas
 E no entanto doadoras.

Exageradamente fúteis, volúveis,
 Desmesuradamente promíscuas
 E ao mesmo tempo santas.
E é neste espelho de tantas
 Incoerências,
 Que eu me vejo também
 Humanamente refletido.

 Versos do poeta e acadêmico (Allarte) Darci Queluz Martins .
 Do livro Canções de Travessias

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Doutores da Cultura

CLIQUE AQUI PARA EXIBIR O VÍDEO

A Academia Lorenense de Letras e Artes - ALLARTE
Participa do Projeto "Doutores da Cultura" Promovido
pela Prefeitura Municipal de Lorena, o qual leva música
 e poesia a hospitais e asilos da nossa cidade.

Marcha

Esquerda, direita,
Esquerda, direita.
Meia volta volver.

A direita na frente,
Promete pra gente,
Nossas vidas mudar.

Promete eleição,
O fim da inflação,
Um país bem melhor.

O justo salário,
vem do plenário
Mais uma promessa.

A direita na frente
Procura insistente
A solução encontrar.

Inventa o Cruzado
E o povo ao seu lado,
Resolve acreditar.

É mais uma esperança
Para quem  não se cansa
De tanto sonhar.

A direita na frente,
Tão indiferente
E o povo a perder.

Atrás a esquerda,
Sentindo esta perda,
Resolve avançar.

E a esquerda na urna,
Reúne sua turma
Para alcançar o poder.

E assim, de repente,
Um passo à frente
Para a esquerda chegar.

E neste país,
Um povo infeliz
Pagou para ver.

Embora indeciso,
É sempre preciso
Novamente tentar.

E um povo calado,
Não sabe de que lado
Sua sorte virá.

Esquerda, direita,
Esquerda, direita.
Meia volta volver.

Do livro Sonho de Papel

De: Ildebrando Pereira da Silva

As mãos

As mãos no contexto
da História Universal,
contribuíram para o bem,
também fizeram tanto mal.

Mãos que deram vida
à Capela Sistina.
Mãos que arrasaram
Nagasaki e Hiroshima.

Mãos que manipularam
A fórmula da penicilina.
Mãos que refinaram
a maldita cocaína.

Mãos que editaram
as melhores enciclopédias.
Mãos  que provocaram
enormes tragédias.

Mãos que erigiram
os maiores edifícios,
Mãos que praticaram
terríveis sacrifícios.

Muitas mãos escreveram
a História Universal.
duas deixaram
um grande sinal.

Mãos estendidas,
repletas de luz.
Mãos que dão vida,
no milagre da Cruz.

Ildebrando Pereira da Silva

Miragem

Perdido no deserto
sem oásis por perto,
que acolha a mim.
Caminho sedento,
sem discernimento 
entre o início e o fim.

Na areia o calor,
no peito a dor,
na alma a ferida.
Nas dunas, a miragem
me empresta a coragem
de insistir pela vida.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da silva

Jogo da vida

Palavras soltas,
entrelinhas ao vento,
bailam indecisas
 no pensamento.
 Peças isoladas
  no jogo da vida.
  Tudo ou nada?
  Fim ou saída?
  A carta na manga,
  continua guardada,
  e o xeque-mate
 na hora marcada.
  quebra- cabeça,
  só não quebra
  a solidão,
  da peça que falta
  no meu coração.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva


quinta-feira, 18 de junho de 2015

O teu riso


O Teu Riso

 
Tira-me o pão, se quiseres,  tira-me o ar, mas
 não me tires o teu riso.
 Não me tires a rosa,
 a flor de espiga que desfias,
 a água que de súbito
jorra na tua alegria,
 a repentina onda
 de prata que em ti nasce.

  A minha luta é dura e regresso
 por vezes com os olhos
 cansados de terem visto
 a terra que não muda,
 mas quando o teu riso entra
 sobe ao céu à minha procura
 e abre-me todas  as portas da vida.

 Meu amor, na hora  mais obscura desfia
 o teu riso, e se de súbito
 vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
 ri, porque o teu riso será para as minhas mãos  como uma espada fresca.

 Perto do mar no outono,
 o teu riso deve erguer
 a sua cascata de espuma,
 e na primavera, amor,
 quero o teu riso como
 a flor que eu esperava,
 a flor azul, a rosa
 da minha pátria sonora.

 Ri-te da noite,
 do dia, da lua,
 ri-te das ruas
 curvas da ilha,
 ri-te deste rapaz
 desajeitado que te ama,
 mas quando abro
 os olhos e os fecho,
 quando os meus passos se forem,
 quando os meus passos voltarem,

 nega-me o pão, o ar,
 a luz, a primavera,
 mas o teu riso nunca
 porque sem ele morreria

Pablo Neruda