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terça-feira, 31 de maio de 2016

Não me deixem tranquilo

 Não me deixem tranquilo
 não me guardem sossego
 eu quero a ânsia da onda
 o eterno rebentar da espuma

 As horas são-me escassas
 dai-me o tempo
 ainda que o não mereça
 que eu quero
 ter outra vez
 idades que nunca tive
 para ser sempre
 eu e a vida
 nesta dança desencontrada
 como se de corpos
 tivéssemos trocado
 para morrer vivendo.


Mia Couto

segunda-feira, 30 de maio de 2016

E ao fim do dia.

E ao fim do dia
depois de todo cansaço
deitar meus olhos
dentro dos teus braços

Múcio Góes

Insensatez

O velho poeta disse que
amar é o ato insensato da paixão,
mas disse também que a insensatez...
é coisa do coração. Um órgão, às vezes,
incontrolável e, por isso, insensato.


- Jorge Nicole

Ficaram-me as Penas


O pássaro fugiu, ficaram-me as penas
da sua asa, nas mãos encantadas.
Mas, que é a vida, afinal? Um voo, apenas....
Uma lembrança e outros pequenos nadas.
Passou o vento mau, entre açucenas,
deixou-me só corolas arrancadas...
Despedem-se de mim glórias terrenas.
Fica-me aos pés a poeira das estradas.

A água correu veloz, fica-me a espuma.
Só o tempo não me deixa coisa alguma
até que da própria alma me despoje!
Desfolhados os últimos segredos,
quero agarrar a vida, que me foge,
vão-se-me as horas pelos vãos dos dedos.

- Cassiano Ricardo

Pouco importa


Analfabeta que sou
Não diferencio poema de poesia
Rima de metonímia...
Rolha de vinho
da cortiça de Portugal
Mesmo assim me chama
a elegante e fina caneta
e papel

Transparente e firme
chama a caneta
Com essa voz de canto de chuva ao cair no chão
molhado, frio e lindo
Que notas são? Em vão as notas, vão-se as notas...
A voz feminina da caneta convida para uma festa
Caneta fina, elegante, de voz firme, confiante
O sangue marca o convite
A marca da caneta pouco importa,
se importa ou falsifica
Ah!
O convite, o vinho...
Foi-se a rolha sem gosto, mais uma rolha, e outra, mais
uma taça e outra...
Com o gosto da rolha... Da rolha que partiu
Se a rolha é de cortiça portuguesa, pouco importa se o vinho é do pobre ou da burguesa.
Que tenha gosto de rolha!
Se a rolha é da cortiça portuguesa,
pouco importa a caneta,
se de sangue tinto
ou de tinta fresca.

- Madalena Daltro

constatação Metafísica

Jogo o tempo
 na água
 E ele
 nada.


 Marina Colasanti

Melhor seria

Melhor seria ter nascido barco.
 Livre... Viajar pelo mundo inteiro...
 De porto em porto...


Cada porto uma história,
 uma aventura,
 uma lembrança.
 Teria sido melhor...

Mas nasci porto, fixo, preso.
 Recebendo com amor todos os barcos
 Que em mim precisam ancorar.

Porto seguro sou,
 Não importa de onde vem o barco
 Ou quão pesada carga traz...
 Podem descarregar suas cargas aqui
 E depois partir,
 ... como todo barco livre faz.


- Camila Pedroso

domingo, 29 de maio de 2016

Retalhos poéticos de Drummond

No meio do caminho tinha um banco,
Onde sentou-se José,
Naquela tarde de maio,
De mãos dadas com a fé.

Com sua lanterna mágica,
Esperou pelo anoitecer,
Ainda que mal soubesse
A fragilidade do ser.

Dançar o Bolero de Ravel
Estava nos desejos seus.
Mas, na igreja o sino tocava,
A canção final de adeus.

De surpresa vem a quadrilha
Na procura da poesia,
Trazendo a canção amiga
Como um presente do dia.

 E para ser um homem livre,
A difícil escolha não é segredo,
Pois, a ausência da coragem,
Para o poeta é um brinquedo

Mas, para sempre não é definitivo,
Em confronto com a eternidade,
O tempo passa? Não passa.
Passa a vida, na verdade.

Na memória o inconfesso desejo:
Recomeçar sem medo da dor,
Vencer a máquina do mundo,
Para viver um grande amor.

Ildebrando Pereira da Silva
Poema construído a partir de títulos

de poemas de Carlos Drummond de Andrade.

ALLARTE

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Estação


Quantos trilhos,
Tiram o brilho
Dos seus filhos,
Nos desvios
Da jornada,
Desta estrada
Que é de ferro
Quando erro
De estação
Fico de plantão
Esperando a partida
Deste trem

Chamado   vida!

Trilhos

Trilhos
São caminhos
Que não deixam
Pegadas


Sem passos

Sem passos

Vou só comigo
Enfrentando o perigo
Da minha jornada.
Não tenho abrigo,
Não tenho amigo,
Somente a estrada.

Não tenho passos
Para preencher os espaços
Da minha caminhada.
Não tenho braços
Para receber meus abraços
na minha chegada.

Ildebrando Pereira da silva

O amor é isso!

Então compreendi que o Amor é isso:
 Um mendigo à beira do caminho.
 Os mais sensíveis ao vê-lo se comoverão.
 Os mais piedosos o alimentarão.
 Os corajosos abrigá-lo-ão.
 Mas apenas os sábios com ele se sentarão.
  

Viviane Barroso

sábado, 28 de maio de 2016

Inteiro

"Não quero um fragmento
 ou uma citação que cause impacto
 quero um poema inteiro
 mesmo que seja ácido

  Não quero uma esmola
 quero o nada que dá impulso
o nada que move a força
 a força que move tudo

 Não quero uma cópia
 quero o original
 quero uma trova,
 mas que não haja igual

Não quero ser mesquinha
 conformada com quase tudo
 Sacuda meu corpo com a simplicidade,
 mas que seja inteiro.

Então dá-me uma música!
 Quero a intensidade
 O suspiro profundo
 Sair desse mundo

Quero uma palavra
 não abreviada
 que seja inteira
 distinta ou camuflada
 Que me faça rir
 que me surpreenda
 que me faça refletir
 que me compreenda
 que me faça amante
 que me encante
 que seja inteira."

- Madalena Daltro

Lábios poéticos

Quero provar
 Do sabor dos seus lábios
 Que inspiram meu ser
 A pensar todos os dias em você.

Quero sentir
 O calor do seu olhar,
 Sua pele a me tocar
 Sua voz na minha se banhar.

 Quero dançar
 No palco dos seus lábios,
 Ao som da poesia,
 Nos versos da sua companhia.

Lábios entrelaçados,
 Beijos enamorados,
 A vida a brilhar,
 O mar e a lua a nos acompanhar.

Poeta " L. F Santos "
Membro da Academia Lorenense de Letras e Artes - ALLARTE

Meu olhar

Meu olhar
Escreve
Pensa...
Observa e lamenta.

Chora
Brilha sorriso
Olha o horizonte
Procure atrás dos montes o paraíso.
Meu olhar
Fotografa
Finge que não vê
Esquece o que vale a pena esquecer.
Meu olhar

Sorrisos e lágrimas
Poesias da alma
Que molham o rosto emocionado de quem se encontra com as palavras.
Poeta " L.F.Santos "

O papel do poeta

No papel minha vida é sepultada,
Na leitura atenta e produtiva,
Minha existência simples e breve,
Na alma leve se eterniza.- L.F. Santos

E no pilar da vida breve 
a simplicidade  e a emoção, 
desenham  na folha em branco
meu humilde  coração. – Jeanice

E a seiva que a caneta jorra,
Fecunda o papel na escrita,
Levando um pouco de alma
Que outra alma necessita. – Ildebrando

E a cada palavra um pequeno vazio,
De um sonho que vive no papel.
Minha alma vive o amor tardio
Que a escrita esconde sob um véu.  - Antoninho

No papel, no pilar, da caneta,
no sonho ou na realidade,
A vida que é breve,
Pode jorrar amor da eternidade. – Darci Queluz



Poema coletivo escrito por 5 membros da ALLARTE

Paradoxo

És o vazio que preenche,
O nada que tudo entrega,
O frio que aquece,
As trevas que iluminam.
És o espinho que enfeita,
A dor que traz alegria,
O veneno que sustenta.
És o mal que faz tanto bem,
A guerra que enche de paz,
A morte que aviva,
A incerteza que dá segurança.
És a tormenta que acalma,
A fraqueza que anima,
o abismo que une.
És o inferno que preciso,
Para ser meu paraíso.

Ildebrando Pereira da Silva

Queria um canto

Queria um canto
Um rancho
Uma música...

No vagão do trem

Queria o silêncio humano
Ouvir o canto da lira
Ler um conto caipira
No canto que não tenho

Queria a coragem
Saúde e prosperidade
A força e a leviandade
Para seguir além

Mas coragem não tenho
Só atrevimento de sonhar
Com o dia que serei apenas eu...
E o canto do pássaro
Que fará ninho na minha sepultura.

Madalena Daltro

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Versos

Às vezes a água fria da pia
em que lavo os copos
e pratos...

congela os versos.

Outras vezes
a mesma água
com que rego as plantas
refresca o vaso
de onde nasce a paz.


Madalena Daltro

O pássaro

"Descosendo o Espaço
O pássaro agonizante
põe pela boca os milhares

de quilômetros
que devorou pelos ares."...


- Aníbal Machado (1894-1964)

Por você