Não tenho mais canções de amor.
Joguei tudo pela
janela.
Em companhia da
linguagem
fiquei, e o mundo se
elucida.
Do mar guardei a melhor onda
que é menos móvel que
o amor.
E da vida, guardei a
dor
de todos os que estão
sofrendo.
Sou um homem que perdeu tudo
mas criou a
realidade,
fogueira de imagens,
depósito
de coisas que jamais
explodem.
De tudo quero o essencial:
o aqueduto de uma
cidade,
rodovia do litoral,
o refluxo de uma
palavra.
Longe dos céus, mesmo dos próximos,
e perto dos confins
da terra,
aqui estou. Minha
canção
enfrenta o inverno, é
de concreto.
Meu coração está batendo
sua canção de amor
maior.
Bate por toda a
humanidade,
em verdade não estou
só.
Posso agora comunicar-me
e sei que o mundo é
muito grande.
Pela mão, levam-me as
palavras
a geografias
absolutas.
- Lêdo Ivo