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domingo, 31 de maio de 2015

Réu confesso

Prometo dizer a verdade,
Nada além da verdade,
Sem nenhuma obstrução.
Revelar a identidade,
Diante da autoridade
Sem medo da punição.
Vou dar o testemunho,
Escrever de próprio punho
A minha pura  confissão:
Fui eu quem matou a saudade,
Em perfeita cumplicidade
Com meu aflito coração.

Ildebrando Pereira da Silva

Ser feliz


Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É saber falar de si mesmo.
É não ter medo dos próprios sentimentos”

Fernando Pessoa

O poeta em Pessoa

Quem disse que o poeta finge?
Será que foi Platão?
Teria sido Camões?
Ou seria Drummond?

Quem disse que o poeta finge
E engana tanta gente
Fingindo que a sua dor
Da dos outros é diferente?

Quem disse que o poeta finge?
Só Fernando sabia bem,
Pois, tinha em sua Pessoa,
Tudo que o poeta tem.

Ildebrando Pereira da Silva

sábado, 30 de maio de 2015

Jogo da vida

Palavras soltas,
entrelinhas ao vento,
bailam indecisas
 no pensamento.
 Peças isoladas
  no jogo da vida.
  Tudo ou nada?
  Fim ou saída?
  A carta na manga,
  continua guardada,
  e o xeque-mate
 na hora marcada.
  quebra- cabeça,
  só não quebra
  a solidão,
  da peça que falta
  no meu coração.

Do livro: sob o olhar da poesia
De: Ildebrando pereira da Silva

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Vazio

O menino na palafita
fita o fundo da panela.
Ela nada lhe oferece
e apesar de tanta prece
resta apenas um vazio
onde a cheia é só no rio.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

Colisão

Barraco humilde da favela,  
vela solta no oceano,         
ano após ano mais carente,
ente que sofre se esconde,
 onde a dor é habitante. 
Ante a um mundo desabando,
ando e não vejo saída. 
Ida sem chances de retornar.
Ar  que aos pulmões dilacera.  
Era da liberdade prisão.      
 Hão por certo de nos ajudar:
Dar o golpe de misericórdia!

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

Propaganda gratuita

Matava era assassino,
roubava era ladrão.
Hoje, ganha repercussão.
vai para o horário nobre,
vira capa de revista,
concede entrevistas,
no rádio e na televisão.
É destaque nos jornais
e nas redes sócias,
ganha muitos seguidores.
Sabem tudo de sua vida,
Até o tipo de comida,
Da sua bela refeição.
Inversão de valores!
Cuida do menor carente,
do idoso é assistente,
faz trabalho voluntário
em casa de recuperação.
é arrimo da sua  família,
com um mísero salário,
Um pobre operário,
que batalha pelo pão.
Estes e tantos outros,
Estão no anonimato,
Não há nenhuma divulgação.
Afinal de contas ser honesto,
não é mais que obrigação.
Para que fazer publicidade?
Não há a necessidade!
Pois, a nossa honestidade,
está em fase de extinção.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Mundo inverso

Na casa de pau, o ferreiro enfrenta
o espeto da vida com dor no olhar.
Quem cedo madruga
a Deus pede ajuda, pois, logo se cansa,
ao ver a esperança fugindo dos dedos,
Ficando os anéis da mera ilusão.
Em terra de cego,
quem tem boca está com fome,
come milho e não tem fama
nem cama para se deitar.                                                 
 E na falta de recurso,                                               
pensa o coração:                                                           
 Mais vale um amigo urso                                               
 Que cinco dedos nas mãos.

Do livro sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O lavrador

Uma Homenagem ao Dia
do Trabalhador Rural

A tua mão é dura como casca de árvore.
Ríspida e grossa como um cacto.
Teu aperto de mão machuca a mão celeste,
de tão agreste — e naturalmente por falta de tacto.

A tua mão sabe o segredo
da lua e da floresta em seu explícito contacto
com as leis ocultas da germinação.

Mão monstruosa, de tão áspera,
incapaz de qualquer carícia, órfã de sutileza,
indiferente ao cetim e ao veludo.

Mão colorida, em que moram os meses
com veias que mais parecem cipós encordoados;
com o dorso coberto de musgo
e em cuja palma, e em forma de M
(que não quer dizer morte)
se encontram, ainda, os sinais fundos
do quatro rios que existiram no paraíso terreal.

Mão aumentada pela santidade do trabalho.
Suja de terra e enorme, mas principalmente enorme
como a estar sempre num primeiro plano
na sucessão das coisas — frutos, árvores, lavouras —
que saem dela ao fim de cada ano.

Se Cristo regressar, ó lavrador
não é preciso que lhe mostres,
como eu, as feridas do corpo e do pensamento.
Nem as condecorações faiscantes
que os outros ostentam no peito.

Mostra-lhe a mão calejada.
Mostra-lhe a mão calejada,
enorme, a escorrer seiva, sol e orvalho.
E os anjos virão vê-la e por vê-la tão grossa e tão dura
farão com que na palma de tua mão nasçam lírios.
E a exibirão no céu, como um objeto
desconhecido, rústico e maltratado.

 
E Deus colocará uma foice de prata
em tua mão grossa, ríspida,
acostumada ao trato da terra terrível
e te dirá:

Trabalharás agora no meu campo
orvalhado de estrelas.
E dormirás sob a árvore da noite.

Cassiano Ricardo

Terra de mãe Joana

 
As armas dos vilões dissimulados
que dominam a terra de “mãe Joana”,
estão mais fortes que as dos soldados,
que passaram todos pela roldana,
e, em muitos perigos foram desafiados
em uma força maior que a humana.
pobres combatentes, inermes, lutaram,
diante do poder do inimigo, se entregaram.

 

Paráfrase da primeira estrofe de:
Os Lusíadas de Luís de Camões

 
Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

Para a minha Amada

As marcas do teu amor

Recebi um grande presente,
O teu amor gravado em mim.
Saí de um mundo silente,
A vida encontrei enfim.
Naveguei pelo infinito,
Ancorei no teu coração.
Meu peito antes aflito,
Aprofundou-se na emoção.
Revesti-me de fantasias,
Imerso em nossa realidade,
Acompanhado da melodia,
Característica da verdade.
Abriu-se um novo horizonte,
Bebi na pureza da tua fonte.
Reconheço com sinceridade,
Até mesmo na eternidade,
Levarei, a certeza do teu amor

 Este Acróstico é uma
homenagem à minha esposa.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

domingo, 24 de maio de 2015

Soneto do Amor ao Próximo


 Hoje eu olharei as pessoas simplesmente como pessoas
 sem nenhum julgamento ou opinião
 que me faça rotular
 quem são as más, quem são as boas,
 e me leve a agir com base nessa tola conclusão.
 Hoje eu olharei as pessoas simplesmente
 como espelhos onde eu vejo refletidas
 minhas fraquezas e virtudes de tal forma
 que as minhas críticas e conselhos sirvam
 antes para que eu próprio mude minhas atitudes.
 Hoje eu olharei as pessoas com aceitação total
 sem formalismos solenes ou distância social
 sem condenar seus defeitos
 ou zombar de suas limitações;
 mas respeitando seus direitos, crenças e aspirações
 acolhendo o que cada um é,
 do jeito que cada um for
 hoje eu olharei as pessoas simplesmente com amor.

Geraldo Eustáquio de Souza

A Idade de Ser Feliz


 Existe somente uma idade para a gente ser feliz
 somente uma época na vida de cada pessoa
 em que é possível sonhar e fazer planos
 e ter energia bastante para realizá-los
 a despeito de todas as dificuldades e obstáculos
 
 Uma só idade para a gente se encantar com a vida
 e viver apaixonadamente
 e desfrutar tudo com toda intensidade
 sem medo nem culpa de sentir prazer

 Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida
 à nossa própria imagem e semelhança
 e sorrir e cantar e brincar e dançar
 e vestir-se com todas as cores

 e entregar-se a todos os amores
 experimentando a vida em todos os seus sabores
 sem preconceito ou pudor
  Tempo de entusiasmo e de coragem

 em que todo desafio é mais um convite à luta
 que a gente enfrenta com toda a disposição de tentar algo novo,
 de novo e de novo, e quantas vezes for preciso

 Essa idade, tão fugaz na vida da gente,
 chama-se presente,
 e tem apenas a duração do instante que passa ...
 ... doce pássaro do aqui e agora
 que quando se dá por ele já partiu para nunca mais!

 
Geraldo Eustáquio de Souza

Mágico sem cartola

Sou mágico sem cartola,
perdido na multidão,
transformando salário mínimo
em minha sustentação.

Minha bela assistente
é a previdência social,
mas, mágico não fica doente.
é quase um imortal.

As cartas que trago na manga,
são todas as contas vencidas,
e o carnê da prestação,  é a varinha
de condão, que ampara as dívidas.

Sou mágico sem cartola,
sem escola, sem instrução,
mas, não quero o poder da esmola.
Quero  reverter a situação.

Sou mágico sem cartola
de onde tirar o futuro,
pois, o passado é ausente
e o presente inseguro.


Do livro: sob o olhar  da poesia.
De: Ildebrando Pereira da Silva.

sábado, 23 de maio de 2015

Desistir...


Desistir...
Eu já pensei seriamente nisso,
mas nunca me levei realmente a sério;
é que tem mais chão nos meus olhos
do que o cansaço nas minhas pernas,
mais esperança nos meus passos,
do que tristeza nos meus ombros,
mais estrada no meu coração
do que medo na minha cabeça.
 
Cora Coralina

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Tua chama


Tua chama, me inflama.
Queima na minha veia,
prende-me na teia
da tua paixão.

Tua chama
sobre mim proclama
um domínio avassalador,
mistura de prazer e amor.
carícias e sedução.

Tua chama,
sobre mim derrama
um bálsamo envolvente.
Sinto-me imensamente
livre em tua prisão.

Do livro: sob o olhar  da poesia.
De: Ildebrando Pereira da Silva.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Essência...


Pare de olhar para fora...

De buscar outros caminhos;

Encontre-se em ti agora...

Desvendando os pergaminhos.

 

Como tu és especial,

Ser humano genuíno...

Dentro de ti um cristal

Ilumina teu destino;

 

Não mergulhe na tristeza

Saiba que a vida é tão bela...

Que em tudo existe beleza

Nesta paisagem singela;

 

Ó semente primordial

Está na hora de assumir...

O teu papel principal

Nesta vida a te sorrir;

 

É tão linda a tua essência...

Tens fragrâncias de mil flores...

A embalar tua existência

Neste castelo de amores.

 

Samuel Balbinot

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Feito criança

Foi ali, naquela rua
que vi teu vulto sumir
meu coração meio louco
chorou te querendo seguir.

Via você indo embora
levando minha esperança:
Esta minha alma de adulto
Chorou feito uma criança.

Elza Savioli

Autopsicografia


 O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
 
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
 
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

Fernando Pessoa

Adormecida


ADORMECIDA

(Castro Alves)

 
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia

Numa rede encostada molemente...

Quase aberto o roupão... Solto o cabelo

E o pé descalço do tapete rente.

 

'Estava aberta a janela. Um cheiro agreste

Exalavam as silvas da campina...

E ao longe, num pedaço do horizonte,

Via-se a noite plácida e divina.

 

 

De um jasmineiro os galhos encurvados,

Indiscretos entravam pela sala,

E de leve oscilando ao tom das auras,

Iam na face trêmulos — beijá-la.

 

Era um quadro celeste!... A cada afago

Mesmo em sonhos a moça estremecia...

Quando ela serenava... a flor beijava-a...

Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

 

Dir-se-ia que naquele doce instante

Brincavam duas cândidas crianças...

A brisa, que agitava as folhas verdes,

Fazia-lhe ondear as negras tranças!

 

E o ramo ora chegava ora afastava-se...

Mas quando a via despeitada a meio,

Pra não zangá-la... Sacudia alegre

Uma chuva de pétalas no seio...

 

Eu, fitando esta cena, repetia

Naquela noite lânguida e sentida:

"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!

"Virgem! - tu és a flor de minha vida!..."

Chove. Que fiz eu da vida?


Chove. Que fiz eu da vida?
 
Fiz o que ela fez de mim...

De pensada, mal vivida...

Triste de quem é assim!
 
Numa angústia sem remédio

Tenho febre na alma, e, ao ser,

Tenho saudade, entre o tédio,

Só do que nunca quis ter...

Quem eu pudera ter sido,

Que é dele? Entre ódios pequenos

De mim, estou de mim partido.

Se ao menos chovesse menos!

 
Fernando Pessoa

terça-feira, 19 de maio de 2015

Soneto 136


A formosura fresca serra,

e a sombra dos verdes castanheiros,

o manso caminhar destes ribeiros,

donde toda a tristeza se desterra;

 

o rouco som do mar, a estranha terra,

o esconder do sol pelos outeiros,

o recolher dos gados derradeiros,

das nuvens pelo ar a branda guerra;

 

enfim, tudo o que a rara natureza

com tanta variedade nos oferece,

me está (se não te vejo) magoando.

 

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;

sem ti, perpetuamente estou passando

nas mores alegrias, mor tristeza.

Luís de Camões

Descartes de pensamento

Penso e logo desisto,
diante do imprevisto,
não encontro ação.
Por um instante hesito,
perco o requisito
que me mostra a direção.

Penso, mas, logo descarto,
da ideia me aparto,
me desfaço dos planos,
adentro ao labirinto,
guiado pelo instinto,
na certeza dos enganos.

Penso, não há outro jeito,
se me explode no peito,
um estranho coração,
que me concede o direito
de ser imperfeito,
desprezando a razão.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

O mundo é grande


O mundo é grande e cabe

 nesta janela sobre o mar.

 O mar é grande e cabe

 na cama e no colchão de amar.

 O amor é grande e cabe

 no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O poeta em Pessoa


Quem disse que o poeta finge?

Será que foi Platão?

Teria sido Camões?

Ou seria Drummond?

 

Quem disse que o poeta finge

E engana tanta gente

Fingindo que a sua dor

Da dos outros é diferente?

 

Quem disse que o poeta finge?

Só Fernando sabia bem,

Pois, tinha em sua Pessoa,

Tudo que o poeta tem.

Ildebrando Pereira da Silva

O Navio Negreiro - com Caetano e Bethânia

Uma poesia de  Castro Alves

Réu confesso


Prometo dizer a verdade,

Nada além da verdade,

Sem nenhuma obstrução.

Revelar a identidade,

Diante da autoridade

Sem medo da punição.

Vou dar o testemunho,

Escrever de próprio punho

A minha pura  confissão:

Fui eu quem matou a saudade,

Em perfeita cumplicidade

Com meu aflito coração.
 
Ildebrando Pereira da Silva

domingo, 17 de maio de 2015

Movido pelo medo

Tenho muita coragem
para contar um segredo:
A minha viagem,
É movida pelo medo.

O medo da guerra,
motra-me o caminho da paz.
O medo do fracasso,
mostra-me do que sou capaz.

O medo da prisão,
mostra-me a  liberdade.
O medo da mentira,
me faz encontrar a verdade.

 O medo do fogo,
me faz atravessar o rio.
O medo de perder,
me faz encarar o desafio.
 
O medo da escuridão,
me faz buscar a saída.
O medo da morte,
me faz lutar pela vida.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sonho impossível


Sonhar mais um sonho impossível

 Lutar quando é fácil ceder

 Vencer o inimigo invencível

 Negar quando a regra é vender

 

Sofrer a tortura implacável

 Romper a incabível prisão

 Voar num limite improvável

 Tocar o inacessível chão

 

É minha lei, é minha questão

 Virar este mundo, cravar este chão

 Não me importa saber

 Se é terrível demais

 Quantas guerras terei que vencer

 Por um pouco de paz

 

E amanhã se este chão que eu beijei

 For meu leito e perdão

 Vou saber que valeu

 Delirar e morrer de paixão

 

E assim, seja lá como for

 Vai ter fim a infinita aflição

 E o mundo vai ver uma flor

 Brotar do impossível chão

 

Miguel de Cervantes