ADORMECIDA
(Castro
Alves)
Uma noite,
eu me lembro... Ela dormia
Numa rede
encostada molemente...
Quase aberto
o roupão... Solto o cabelo
E o pé
descalço do tapete rente.
'Estava
aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as
silvas da campina...
E ao longe,
num pedaço do horizonte,
Via-se a
noite plácida e divina.
De um
jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam
pela sala,
E de leve
oscilando ao tom das auras,
Iam na face
trêmulos — beijá-la.
Era um
quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em
sonhos a moça estremecia...
Quando ela
serenava... a flor beijava-a...
Quando ela
ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia
que naquele doce instante
Brincavam
duas cândidas crianças...
A brisa, que
agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe
ondear as negras tranças!
E o ramo ora
chegava ora afastava-se...
Mas quando a
via despeitada a meio,
Pra não
zangá-la... Sacudia alegre
Uma chuva de
pétalas no seio...
Eu, fitando
esta cena, repetia
Naquela
noite lânguida e sentida:
"Ó
flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem!
- tu és a flor de minha vida!..."