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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Mágico sem cartola

Sou mágico sem cartola,
perdido na multidão,
transformando salário mínimo
em minha sustentação.

Minha bela assistente
é a previdência social,
mas, mágico não fica doente.
é quase um imortal.

As cartas que trago na manga,
são todas as contas vencidas,
e o carnê da prestação,  é a varinha
de condão, que ampara as dívidas.

Sou mágico sem cartola,
sem escola, sem instrução,
mas, não quero o poder da esmola.
Quero  reverter a situação.

Sou mágico sem cartola
de onde tirar o futuro,
pois, o passado é ausente

e o presente inseguro.

Ildebrando Pereira da Silva

Presentes e castigos

A vida brincou comigo 
de ciranda e carrossel,                                                                      
mostrou-me os portais do inferno, 
levou-me aos jardins do céu.
                                          
Falou sério comigo, 
fez carranca e encenação,          
colocou-me em altos montes,
 deixou-me abaixo do chão.

Passeou comigo, 
sem tempo e lugar,                                     
em dias de grandes trevas,
 em noites de luar.

A vida me fez surpresas, 
guardou tantos mistérios,       
prometeu-me o paraíso  
e o trono dos impérios.

Ofereceu-me o ouro 
o mais nobres dos metais,                     
 e me fez sentir 
como o pior dos animais.

Mostrou-me a beleza, 
a ternura e o lirismo.              
 Lançou-me sem piedade,  
no mais profundo abismo.

A vida me fez gigante 
e morrer de emoção.           
 Tornou-me em um instante 
bem menor que um anão.

Deu-me liberdade 
trancou-me em uma prisão.                 
 Criou muitos problemas, 
inventou a solução.

Deu-me um grande presente: 
Não existe outro igual.
O sublime dom da vida 
com o castigo de ser mortal.

Ildebrando Pereira da Silva

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

CORAÇÃO DESCUIDADO

O coração sem cuidado,
Pelas ruas da vida,
Ficou estacionado
Na parada proibida.

Andou na contramão,
Avançou o sinal,
Sem obedecer a
Ordem do policial.

Fez tudo errado:
Dirigiu embriagado,
Perdeu a direção,

Atravessou canteiro,
Bateu na casa do amor
E ali ficou prisioneiro.

Do livro Sonho de Papel

De: Ildebrando Pereira da Silva

Perdoa-me


Perdoa-me pelo muito que te amo,
Por todas as lágrimas derramadas
Em todo pranto que chorei.
Perdoa-me pelas noites que passei em claro
E por todas as vezes que te procurei.
Perdoa-me por ter pensado tanto em ti
E ter-me esquecido de mim.
Perdoa-me por ter feito de ti
O meu sonho e a minha realidade.
Perdoa-me por ter-te transformado
Na minha razão de viver
E na própria razão de estar morrendo.
Perdoa-me pelo tempo roubado,
Pelos beijos e carinhos que a ti entreguei,
Pelos momentos felizes que a teu lado passei.
Perdoa-me por ser tão apaixonado
E querer estar sempre contigo te fazendo feliz.
Perdoa-me se em tua vida eu fui o certo errado,
A certeza incerta, o remédio envenenado.
Perdoa-me se eu fui a descoberta encoberta,
O inocente culpado.
Perdoa-me!
Perdoa-me por ter-te perdoado.


Do meu primeiro livro (Fantasia)  escrito em 1989

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Saber viver

 Não sei... se a vida é curta
ou longa demais para nós,
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe,
o braço que envolve,
a palavra que conforta,
o silêncio que respeita,
a alegria que contagia,
a lágrima que corre,
o olhar que acaricia,
o desejo que sacia,
o amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira,
pura enquanto ela durar...
  

Cora Coralina,

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O verbo Amar

Te Amei: era de longe que te olhava
e de longe me amavas vagamente...
Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,
que a alma da gente faz escrava.

Te Amava: como inquieto adolescente,
tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava,
adivinhando esse mistério ardente
do mundo, em cada beijo que te dava.

Te Amo: e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor,
enquanto segue a vida, vivendo,
e eu... vou te amando...

Te Amar: é mais que um verbo
é a minha lei,
e é por ti que o repito no meu canto:
Te Amei...Te Amava...Te Amo...e Te Amarei!


J. G. de Araújo Jorge

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Transcendente


Não foi capaz de lhe pôr termo, a fria morte
 Nem foi o tempo, a distância, o ausentar-me...
 Não lhe feriu, nem consumiu, qual fez à carne,
 A fúria do adeus... fumaça do pó consorte...

Não se desfez o que à paz é alimento,
 Ao sonho abrigo, à felicidade raiz...
 Nem mesmo a tristeza sob o por-de-sol gris,
 À incansável certeza negou alento!

Ao cumprir seus ciclos, a vida deixa rastros,
 Sinais transcendentes meio ao véu das lembranças...
 E novo raiar, testemunharam os astros...

O que é eterno, a par de toda promessa,
 Nada lhe destrói o leito de esperança...
 Assim o amor... nada existe que o impeça!


Luciana Nobre

Soneto e eu


Não sei se escolho o soneto ou se ele me escolhe.
 Não sei se lhe sou flor ou ele meu canteiro.
 Só sei que planto versos, e ele, jardineiro,
 Se abre em sulcos e minha semente acolhe...

Que males faz sua cerca que a nós circunda?!
 Não sei dizer! mas à poda não nos entrega,
 Pois brota cerca viva, e a cada flor rega
 De orvalhos e sonhos a lhes manter fecundas...

Talvez sejamos botão, o soneto e eu,
 E embora o espinho doutras rosas sobrepostas
- Que nos desejam enclausurar à cova em breu-

Somos jardim de poesias ditas loucas,
 A sobreviver, livres da cultura imposta,
 A nos cultivarmos, em luz, e às oiças moucas...


Luciana Nobre