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domingo, 25 de outubro de 2015

Não me deixem tranquilo

 Não me deixem tranquilo
 não me guardem sossego
 eu quero a ânsia da onda
 o eterno rebentar da espuma

 As horas são-me escassas
 dai-me o tempo
 ainda que o não mereça
 que eu quero
 ter outra vez
 idades que nunca tive
 para ser sempre
 eu e a vida
 nesta dança desencontrada
 como se de corpos
 tivéssemos trocado
 para morrer vivendo.


Mia Couto

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Quadrilha - Ontem e hoje.


Mundo inverso

Na casa de pau, o ferreiro enfrenta
o espeto da vida com dor no olhar.
Quem cedo madruga
a Deus pede ajuda, pois, logo se cansa
ao ver a esperança fugindo dos dedos,
ficando os anéis da mera ilusão.
Em terra de cego,
quem tem boca está com fome,
come milho e não tem fama
nem cama para se deitar.
Na falta de recurso,
pensa o coração:
Mais vale um amigo urso,
que cinco dedos na mão.

Do Livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

As duas flores

Castro Alves é  conhecido  como o  "Poeta dos Escravos"
por sua luta contra escravidão e  por  seu poema "Navio Negreiro". Ele é o Patrono da Cadeira Nº 03 da ALLARTE



São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Castro Alves

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Saudade e poesia

Poesia que a alma escreve
na noite calada,               
com a pena da saudade
à espera da madrugada.

Poesia que a alma recebe
 na madrugada vazia,       
com saudade pena
 à espera do dia.                      

 Poesia que a alma acolhe
no dia que lhe invade            
a dor e a saudade
à  espera da tarde.                   

 Poesia que a alma transpira,
na tarde é um açoite,      
a dor da saudade,
 à espera da noite.                                 

E a alma na espera,                                                    
 supera a agonia,                                                     
 morrendo de saudade,                                             
 vivendo de poesia.

Do livro: sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

É inútil tentar

É inútil disfarçar o que vai no coração,
Forçar um sorriso, causar boa impressão.
Dizer que tudo está bem e não há tempestade,
Que a tristeza passou e também a saudade.

Tentar esconder o que a vida revela,
Se a alma abriga uma dor que é só dela.
É inútil disfarçar a nostalgia presente
E o desejo que chega sempre insistente.

Querer esconder o vazio que aumenta
Com grande poder nas horas tão lentas.
É inútil tentar qualquer artifício,

Para fugir da solidão não há nada propício.
É impossível esconder a grande verdade:
A chama do amor neste peito que arde.


Do livro: Fantasia
De: Ildebrando Pereira da Silva

Caravanas

Contemplo a caravana que além passa,
E do oásis da minha solidão,
Por entre as nuvens de uma areia baça
Ouço o tropel nas sombras que se vão.

Da cupidez que a tudo envolve e enlaça,
A cavalgada doida da ambição
Se envereda no abismo da desgraça,
Ao entrechoque de voraz paixão.

Os espectros ressurgem dentre as trevas,
Perambulam e vagam entre as levas
Que se perderam por caminho hostil

E ao contemplar as multidões insanas,
Que passam no tropel das caravanas,
Sinto-me num mundo árido e febril...

Luys de Castelar

Poeta lorenense 

sábado, 3 de outubro de 2015

Ainda que...

Ainda que os espinhos superem as flores
Não deixe que as lágrimas apaguem teu sorriso.
Ainda que as trevas encubram a luz,
Não deixe encoberto o brilho dos teus olhos.
Ainda que a realidade desperte os sonhos,
Não deixe de sonhar com a realidade que tu queres.
Ainda que a vida supere tua força,
Não deixe de buscar a “Força” que te faz forte.

Ainda que a noite seja escura e fria,
E pela manhã o sol não apareça.
Ainda que teus versos percam a rima,
e na tua boca o canto emudeça
Ainda que as árvores não deem seus frutos
E os campos não floresçam.
Ainda que no tempestuoso mar
Teu barco esteja prestes a perecer:

Não deixe de sorrir,
Não deixe de cantar,
Não deixe de viver,
Não deixe de amar.

Pois, ainda há alguém que precisa:

Do teu sorriso para cantar,
Do teu canto para sorrir,
Da tua vida para amar,
Do teu amor para viver.

Do livro: Fantasia
De: Ildebrando Pereira da Silva



sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Medo de viver

O medo no meu passado,
era um medo tão presente,
morria de medo da morte,
e de  partir tão de repente.

Hoje, não penso mais nisso,
pois, o que abala o meu ser,
não é mais o medo da morte
e, sim o medo de viver.


Do livro: sob o olhar  da poesia.
De: Ildebrando Pereira da Silva.