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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sem medida

A distância sobre o tempo
Determina a velocidade,
Mas, não tem nenhum argumento
Para medir a minha saudade

Ildebrando Pereira da silva

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Réu confesso

Prometo dizer a verdade,
Nada além da verdade,
Sem nenhuma obstrução.
Revelar a identidade,
Diante da autoridade
Sem medo da punição.
Vou dar o testemunho,
Escrever de próprio punho
A minha pura  confissão:
Fui eu quem matou a saudade,
Em perfeita cumplicidade
Com meu aflito coração.



Ildebrando Pereira da Silva

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Mágico sem cartola

Sou mágico sem cartola,
perdido na multidão,
transformando salário mínimo
em minha sustentação.

Minha bela assistente
é a previdência social,
mas, mágico não fica doente.
é quase um imortal.

As cartas que trago na manga,
são todas as contas vencidas,
e o carnê da prestação,  é a varinha
de condão, que ampara as dívidas.

Sou mágico sem cartola,
sem escola, sem instrução,
mas, não quero o poder da esmola.
Quero  reverter a situação.

Sou mágico sem cartola
de onde tirar o futuro,
pois, o passado é ausente
e o presente inseguro.


Do livro: sob o olhar  da poesia.
De: Ildebrando Pereira da Silva.

As mãos

As mãos no contexto
da História Universal,
contribuíram para o bem,
também fizeram tanto mal.

Mãos que deram vida
à Capela Sistina.
Mãos que arrasaram
Nagasaki e Hiroshima.

Mãos que manipularam
A fórmula da penicilina.
Mãos que refinaram
a maldita cocaína.

Mãos que editaram
as melhores enciclopédias.
Mãos  que provocaram
enormes tragédias.

Mãos que erigiram
os maiores edifícios,
Mãos que praticaram
terríveis sacrifícios.

Muitas mãos escreveram
a História Universal.
duas deixaram
um grande sinal.

Mãos estendidas,
repletas de luz.
Mãos que dão vida,
no milagre da Cruz.

Ildebrando Pereira da Silva

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Essência

Pare de olhar para fora...
De buscar outros caminhos;
Encontre-se em ti agora...
Desvendando os pergaminhos.

Como tu és especial,
Ser humano genuíno...
Dentro de ti um cristal
Ilumina teu destino;

Não mergulhe na tristeza
Saiba que a vida é tão bela...
Que em tudo existe beleza
Nesta paisagem singela;

Ó semente primordial
Está na hora de assumir...
O teu papel principal
Nesta vida a te sorrir;

É tão linda a tua essência...
Tens fragrâncias de mil flores...
A embalar tua existência
Neste castelo de amores.

Samuel Balbinot

sábado, 21 de novembro de 2015

Verdade

Quando queremos dizer uma verdade, mas, no fundo desejamos que não acreditem nela, por diversas razões, usamos um tom de brincadeira, de deboche e até mesmo de ironia para disfarçar o seu real conteúdo.
Marcelino era uma pessoa que fazia isso com frequência e com extrema habilidade. Era comum ouvir a pergunta: Está falando sério ou é brincadeira? Realmente ele possuía este dom de deixar um ponto de interrogação em relação as suas afirmações.
Assim, quando se sentia triste, chateado com alguma coisa em casa ou no trabalho, dizia: Vou para a casa da Zoquinha. Lá encontro o que preciso para afastar a tristeza.
No início perguntavam: Quem é essa Zoquinha? E naquele tom que lhe era peculiar, respondia: É minha amante. Todos riam.
O interessante é que depois de ir à casa da tal Zoquinha ele retornava com um sorriso, uma alegria contagiante, parecia ter passado por uma transformação.
Isso fazia com que todos ficassem intrigados e se perguntassem: Quem será essa Zoquinha? Será uma psicóloga ou uma psicanalista onde ela derrama suas angústias? Será que é algum bar onde ele encontra outros amigos e se distrai? Será alguma igreja que ele frequenta, onde desabafa e encontra respostas para seus conflitos interiores?
Por mais que se questionassem ninguém chegava a uma conclusão sobre qual seria o real significado da expressão “vou à casa da  Zoquinha”.   
Às vezes sentia vontade de comer alguma coisa diferente em casa e pedia para sua esposa fazer ela respondia: Peça para a Zoquinha. Com certeza ela fará muito bem. Claro que ela estava brincando, pois, era comum alguém dizer a ele: Vá para a casa da Zoquinha.
Um dia Marcelino foi surpreendido por um infarto fulminante. Aquela saúde que parecia ser imbatível não foi suficiente para segurar a oculta fragilidade de seu coração.
No velório, amigos, familiares e colegas de trabalho notaram a presença de uma pessoa, aparentemente desconhecida de todos, que não saia de perto do caixão. Era uma mulher de baixa estatura, vestida de negro, como que simbolizando um luto íntimo e profundo, que chorava constantemente. Sua tristeza aparentava ser a maior entre todos os presentes.
A viúva, impaciente com aquela cena dirigiu-se até ela e perguntou?
- Quem é você? Qual o seu nome?

- Sou a Zoquinha!

Minha primeira e única crônica.
Ildebrando Pereira da Silva

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Miragem

Perdido no deserto
sem oásis por perto,
que acolha a mim.
Caminho sedento,
sem discernimento 
entre o início e o fim.

Na areia o calor,
no peito a dor,
na alma a ferida.
Nas dunas, a miragem
me empresta a coragem
de insistir pela vida.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

Teus lindos olhos negros

Teus lindos olhos negros
Me fazem sonhar
Me fazem esquecer quem sou
Teus lindos olhos negros
Me fazem viver em outra dimensão
Me fazem querer voltar no tempo
Teus lindos olhos negros
Me fazem sorrir chorando
Me fazem chorar sorrindo
Me fazem sentir saudade
Me fazem morrer de amor
Porque não olham pra mim...
Teus lindos olhos negros...
Teus lindos olhos negros...
Nikko Sercunvius

INTERTEXTO - Bertolt Brecht

 Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.


Bertolt Brecht

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A canção do africano


Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...

De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!

"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!

"0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!

"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...

"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".

O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!

O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.

E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!


Castro Alves
Patrono da Cadeira Nº 03 da ALLARTE
Ocupada pela Acadêmica
Maria José André

domingo, 15 de novembro de 2015

Luta cotidiana


Quero pintar sobre o nada
estou exausta de tentar o tudo
cansada de fabricar sonhos
cansada de tanto luto
Luto pela luta perdida
da vida ardida
do cansaço da tentativa
(...)
Estou viva e vou lutar sim!
Luto pelo verde céu
pelo barrento mar
pelo mundo que há, em mim.
- Madalena Daltro

#‎Poesia

Vento...


Grito negro

Na semana da Consciência Negra
Alguns textos para reflexão.

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

José Craveirinha (1922-2003); Moçambique.

Explosões


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Piano


SEMPRE que eu ouço o aveludado som do Piano ao pé do meu ouvido
Eu me lembro do seu sorriso sincero,
E me dizendo coisas que eu nunca imaginei ouvir.
Sinto bem perto o calor do fogo que nos incendiava;
A pouca luz que alumiava a escuridão como uma vela.
Lembro-me dos teus olhos de anjo
Olhar que misturava paixão com prazer.
Doce amor de uma magia Divina.
Ainda sinto o amor que me movia naquelas noites com chuvas.
Posso ver esculpido no teu rosto a inocência de uma Flor;
E a malicia de uma menina;
Ainda me lembro  bem das promessas daquela noite.
Ao som de Piano misturando o sabor do teu beijo com vinho e sedução;
Som que invade a alma, beijo que me enlouquece de prazer,
Amor de uma paixão incandescente;
Luz e calor de uma mulher.
Mulher que eu amo.
Mas ela já se foi;
Mas vive em mim, sempre.
Sempre que ouço o aveludado som do Piano.


Misael Cezar de Andrade

domingo, 8 de novembro de 2015

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
 moça branca como a neve,
 me leve.

 Se acaso você não possa
 me carregar pela mão,
 menina branca de neve,
 me leve no coração.

 Se no coração não possa
 por acaso me levar,
 moça de sonho e de neve,
 me leve no seu lembrar.

 E se aí também não possa
 por tanta coisa que leve
 já viva em seu pensamento,
 menina branca de neve,
 me leve no esquecimento.

 Ferreira Gullar

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Tão perto

No peito aberto,
 ferida rasgada                                        
saúde abalada
e o remédio tão perto. 
              
Caminho deserto,
pés vacilantes,                                
passos errantes
e a saída tão perto.
                                 
 Céu encoberto,
 coração carente,                                  
escuridão envolvente
 e a luz tão perto.
                        
 No peito aberto,
dor encravada,                                
  morte marcada
 e a vida tão perto.       
                    
 Caminho deserto,
 alma sedenta,                                
calor atormenta
e a água tão perto
.                               
Céu encoberto,
 solidão constante,                                      
alegria distante
e você tão perto.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva

Paradoxo

És o vazio que preenche,
O nada que tudo entrega,
O frio que aquece,
As trevas que iluminam.
És o espinho que enfeita,
A dor que traz alegria,
O veneno que sustenta.
És o mal que faz tanto bem,
A guerra que enche de paz,
A morte que aviva,
A incerteza que dá segurança.
És a tormenta que acalma,
A fraqueza que anima,
o abismo que une.
És o inferno que preciso,
Para ser meu paraíso.

Inteiro

Não quero um fragmento
 ou uma citação que cause impacto
 quero um poema inteiro
 mesmo que seja ácido

  Não quero uma esmola
 quero o nada que dá impulso
o nada que move a força
 a força que move tudo

 Não quero uma cópia
 quero o original
 quero uma trova,
 mas que não haja igual

Não quero ser mesquinha
 conformada com quase tudo
 Sacuda meu corpo com a simplicidade,
 mas que seja inteiro.

Então dá-me uma música!
 Quero a intensidade
 O suspiro profundo
 Sair desse mundo

Quero uma palavra
 não abreviada
 que seja inteira
 distinta ou camuflada
 Que me faça rir
 que me surpreenda
 que me faça refletir
 que me compreenda
 que me faça amante
 que me encante
 que seja inteira."

- Madalena Daltro

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Invasão

Queria ser um rio,                                           
 ultrapassar meus limites,                                          
sair das minhas margens,                                
invadindo teus domínios.                                               
 Ir lentamente subindo,                                     
 ocupando teus espaços,                                      
percorrer teus vales e campos                                          
e os mais altos montes deixar submersos.                      
 E nesta invasão te entregar tudo que tenho,          
deixando em teu solo as marcas de quem sou.            
 Em minhas águas banhar-te de carinhos,           
 inundar-te de amor.  

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva.   

O senhor é formidável...

Para descontrair um pouco

Lembro-me que na minha infância tínhamos uma vizinha a dona Maria que em um belo dia estava brigando com Seu Manoel. Brigando? Só tivemos a certeza de que se tratava de briga pelos gestos agressivos e o tom de voz áspero, pois, ela dizia em altos brados.
- O senhor é formidável. Só um homem formidável poderia ter feito o que senhor fez para mim. Fique o senhor sabendo que quero distância de pessoas assim.

Confesso que nunca tive coragem de perguntar a ela o significado de formidável.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A nudez da lua

Sem o sol, a lua
 não é a lua.
 Fica toda nua,
 vestida de solidão.
 Sem o sol, a lua
 apenas flutua,
 imersa na escuridão.

Do livro: Sob o olhar da poesia
De: Ildebrando Pereira da Silva.